Morreu ontem em Recife, aos 87 anos, o escritor paraibano Ariano Suassuna. Após ter sofrido um AVC na segunda-feira, o autor de “O Auto da Compadecida” não resistiu a uma parada cardíaca provocada pela hipertensão intracraniana, segundo informações do Real Hospital Português.
Nascido em 16 de junho de 1927 em Nossa Senhora das Neves, capital da Paraíba, Ariano Suassuna era filho de Cássia Vilar e João Suassuna. o escritor teve o pai assassinado no Rio de Janeiro durante a revolução de 30. Conflito que começou com o assassinato do governador de Recife, o paraibano João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, evento que ocasionou a troca do nome da capital.
Foi entre 33 e 37 em Itaperoá, interior da Paraíba, que Ariano Vilar Suassuna assistiu pela primeira vez uma apresentação de mamulengos e um desafio de viola. Duas influências que marcaram a produção teatral do escritor.
No início da década de 40, após escrever seu primeiro conto com 12 anos, Suassuna começa a ter seus textos publicados nos jornais de Recife. Em 1946 entra na Faculdade de Direito, onde mais tarde fundaria com Hermilo Borba Filho, o Teatro do Estudante de Pernambuco. Nos três anos seguintes, Ariano Suassuna escreve suas três primeiras peças.
Formado em 1950, passa a equilibrar a vida de advogado com a de escritor. Com uma produção intensa, Ariano Suassuna chega a sua obra de maior sucesso em 55, com “O Auto da Compadecida”. No ano seguinte abandona a advocaciapara lecionar na Universidade Federal de Pernambuco. Em 1957 casa-se com Zélia de Andrade Lima, sua companheira de toda a vida, com quem teve seis filhos.
Em 1959 concretiza nova parceria com Hermilo Borba Filho para fundar o Teatro Popular do Nordeste. Entre 1967 e 74, Ariano Suassuna se tornou membro fundador do Conselho Federal de Cultura, participou do Conselho de Cultura Estadual e foi diretor do Departamento de Extensão Cultural da UFPE. Ainda nos anos 70 iniciou o Movimento Armorial, projeto que pretendia valorizar todos os aspectos da cultura nordestina. Com a trilogia “O Romance d’A Pedra do Reino”, “O Príncipe do Sangue que vai-e-volta” e “História d’O Rei Degolado nas Caatingas do Sertão: ao Sol da Onça Caetana”, Ariano Suassuna criou o “romance armorial-popular brasileiro”.
Secretário de Educação e Cultura do Recife, entre 75 e 78, Suassuna era doutor em História pela UFPE e foi professor por mais de 30 anos, ensinando Estética e Teoria do Teatro, Literatura Brasileira e História da Cultura Brasileira.
Em 1989 Ariano Suassuna foi eleito para a cadeira de nº 32 da Academia Brasileira de Letras, o escritor integrou também as academias paraibana e pernambucana. Em 2000, tornou-se doutor Honoris Causa da Faculdade Federal do Rio Grande do Norte.
Atualmente Suassuna dividia-se entre as aulas-espetáculo e a criação de um romance de proporções monumentais, que já durava três décadas. Nas aulas, continuava o projeto armorial, dissecando não só a cultura nordestina, mas a brasileira também. Faziam parte do espetáculo de Ariano Suassuna as origens ibéricas, a tradição dos violeiros, dos cantadores, das rabecas e os cordéis. Em o que ele chamava de “o livrão” pretendia contar a história do povo brasileiro a partir da ótica das etnias fundamentais do país: um português, um índio, um negro e um semítico, em referência aos árabes e judeus.
A história do escritor retrata sua importância dentro da cultura brasileira e apresenta um homem tão grande quando a obra inacabada que resumiria mais de 500 anos de história nacional. Ariano Suassuna era uma celebração ao povo brasileiro.
Fonte: Academia Brasileira de Letras