nov 10, 2014 Comportamento, Homem
Conhecida como a capital financeira do país, São Paulo talvez seja a cidade brasileira onde mais se usa terno. Motivo de protesto durante o verão, sendo alvo de campanhas a favor da bermuda e de roupas mais leves, o terno continua sendo sinônimo de formalidade e elegância. Mas você já parou pra pensar sobre a história do terno? De onde ele surgiu?
O nome “terno” refere-se às três peças que compõe o traje: paletó, colete e calça. Criado pelos alfaiates da corte do rei Luís XIV, a vestimenta surgiu no período barroco, século XVII da Idade Moderna. O terno veio suprir a necessidade de um traje padrão no momento de transição das roupas largas da Idade Média, para vestes que passavam a acompanhar o contorno da silhueta, indo muito além das funções básicas de cobrir, aquecer e proteger o corpo. Na história do terno, por traje padrão entende-se mesma cor e tecido.
O paletó do terno era chamado de “justaucorps”, fazendo alusão ao molde justo ao corpo que passou a se tornar comum no Renascimento, o primeiro período da Idade Moderna. Devido a grande proeminência da França na época, o terno tornou-se referência de estilo em toda a Europa. O traje original tinha, além de um colete longo que se estendia para baixo da cintura, um “culote”, ou seja, um calção ao invés de calças. Ao longo da história do terno o colete foi tornando-se cada vez mais curto, até chegar ao seu tamanho atual por volta da metade do século XVIII. Contudo, as calças só foram adotadas a partir da Revolução Francesa, que marcou o fim da Idade Moderna e o início do movimento sans culottes, “sem calção” (foto abaixo).
Com a queda da Bastilha, e a tomada do poder pela burguesia, o terno aristocrata deu lugar a um traje similar adaptado para as funções do dia a dia. A nova formatação incluía peças menos pomposas e de aparência mais neutra, entre elas, a calça no lugar do calção e das meias. Assim a história do terno deixava de lado o habit complet à la française, a última versão dos ternos da corte, caracterizado pelo bordado com fios de ouro e prata, que ostentava a riqueza e contribuía para distanciar ainda mais a nobreza do povo.
Em seguida os ingleses criaram o frock coat, uma casaca com uma grande gola que caia sobre o peito. À parte de cima do terno também foi adicionado um corte na cauda para facilitar a montaria. Daí o nome “redingote” utilizado pelos franceses para identificar o riding coat da Inglaterra. É deste modelo que nasceu o terno estilo jaquetão, uma das variações propostas para o novo traje formal do terceiro milênio, que teve seu auge nos anos 40 com Al Capone e voltaria a moda nos anos 2000. Até agora, as tentativas de seguir com esta evolução dentro da história do terno, como a feita por Billy Reid na semana de moda nova-iorquina de 2013, não foram além das passarelas.
Contudo, durante a era napoleônica, imperador conhecido pela sua excentricidade, houve um resgate da extravagância aristocrática dos ternos anteriores à Revolução Francesa. Esse novo momento exibicionismo da história do terno foi anulado na Era Vitoriana, período marcado pela Revolução Industrial, que caracterizou, portanto, um mundo mais ligado a produção de capital através do trabalho em linhas de produção. Esse período de profissionalização da sociedade exigia trajes formais, configurando o início de uma sociedade e de uma maneira de vestir mais parecida com a atual.
Assim foram-se formatando na história do terno os itens essenciais do guarda-roupa masculino. A partir do frock coat, nasceram o fraque e a casaca, esta, o traje mais formal de todos. Foi na segunda metade do século XIX que o terno ganhou o comprimento atual com a criação do lounge suit ou sack suit. Esta versão foi desenvolvida como uma alternativa esportiva, para o formal morning suit, o fraque. A versão atual do terno de passeio é chamada de business suit e, apesar de continuar sendo chamada popularmente de terno, o traje com duas peças é conhecido no mundo da moda como costume.
A história do terno ganha um capítulo importante em 1968, quando Yves Saint Laurent inventa o terno feminino, conhecido como tailleur pantalon ou terninho. Nos anos 80, com a crescente independência feminina e a ascensão da mulher no ambiente profissional, Armani e Versace criaram o power dress, que ajudava na busca pelo poder com a imponente adição de ombreiras ao traje.
No início de 2014 o Museu de Londres apresentou a exposição “Anatomy of a Suit”, na qual o curador, o historiador Timothy Long desconstruiu diversos ternos para entender os diferentes cortes, costuras, enchimentos e forros do traje. Assim, como pode ser visto no vídeo abaixo, parte da história do terno pôde ser melhor entendida.